Não faz sentido tentar elitizar o e-commerce brasileiro

Ultimamente tenho notado uma movimentação perigosa nos meios do e-commerce brasileiro, uma tendência de elitização do negócio. Enquanto todo mundo corre para a difusão cada vez maior do comércio eletrônico como forma de expansão dos negócios, alguns setores no Brasil parecem tentar deixar a coisa mais complicada do que realmente é, em uma tentativa de “fechar a porta” para os pequenos empresários. Sou um dos primeiros a defender a profissionalização dos participantes do mercado e para isso acredito que o Curso de E-Commerce tenha contribuído muito, afinal de contas, já são mais de 3.000 participantes de nossos cursos. O que não apoio é a criação de uma cortina de fumaça para deixar os pequenos e médios empresários perdidos em uma verdadeira sopa de letrinhas e projetos muito acima de suas necessidades e capacidade orçamentária.

Adequando ferramentas de e-commerce ao orçamento possível

Não só no e-commerce, como em qualquer projeto, é óbvio que gostamos de trabalhar com as ferramentas mais modernas e sofisticadas, mas nem sempre o orçamento disponível permite. Por isso, fico triste ao ver que quando o pequeno e médio empresário tentam montar um pequeno ecommerce, as únicas opções apresentadas são sistemas e serviços que estão muito mais para a Amazon do que para o empreendedor que está fazendo sua primeira investida no varejo virtual. Uma consultoria em e-commerce tem que ter a sensibilidade de adaptar o projeto ao orçamento disponível e não super dimensionar a plataforma de e-commerce, por exemplo, só porque o isso lhe traz algum retorno financeiro ou em termos de prestígio.

O inverso também é aplicado nesse caso. Por várias vezes, o pequeno empresário, por desconhecer as opções de plataformas de e-commerce disponíveis no mercado, e suas limitações, se vê diante do grave problema de ter que fazer a troca da plataforma de e-commerce pouco tempo depois do início de suas atividades, justam,ente porque ninguém o avisou que aquele sistema não atenderia às sua necessidades futuras ou o volume de acessos que possa vir a ter.

Falando a linguagem do pequeno empresário

Esse é um outro ponto que as vezes afasta os novos empreendedores do comércio eletrônico. Por vezes, ao conversar com um consultor na área do e-commerce alguns empresários com os quais já tive a chance de conversar durante nosso curso sobre criação de lojas virtuais disseram sair confusos com tantos termos técnicos, siglas e expressões estrangeiras. O resultado é um só, o futuro empreendedor digital desiste por achar que o e-commerce é coisa somente para “alguns iluminados”.

Tive um mestre na faculdade que me disse que a grande sabedoria, é conseguir traduzir para a linguagem leiga, os conceitos da linguagem técnica. Você não se torna mais qualificado só porque despeja uma sopa de letrinhas em cima do seu cliente, muito pelo contrário, em alguns casos se torna até arrogante. Por isso, acho necessário os aspirantes ao varejo eletrônico tenham acesso a informações expressas de formas mais simples, objetivas e pontuais para que possam ter uma real visão do negócio em que estão querendo entrar. Elitizar este linguajar para tentar agregar valor ao serviço ou produto é simplesmente matar a galinha dos ovos de ouro.

Transparência acima de tudo

Para desenvolvermos o e-commerce no Brasil é necessário acima de tudo sermos transparente. O pequeno e médio empresário recorre a uma consultoria em busca de informações para embasar suas decisões e não pode sair de uma reunião inicial mais confuso do que entrou. Passar todas as informações importantes é essencial para a orientação desse empresário. Não falo em pintar o comércio eletrônico como um negócio banal e sem dificuldades, mas sim colocar as coisas em suas devidas proporções. É certo afirmar que o e-commerce no Brasil está cada vez maior e profissionalizado e que requer sim um bom investimento para ter sucesso, mas isso não significa que a grande maioria dos pequenos e médios empresários só podem ingressar neste segmento com investimentos vultosos. Em nossos cursos, muitas pessoas se surpreendem com as opções de negócios que existem na Internet que cabem em seus orçamentos, mesmo quando modestos.

Comércio eletrônico não é barato nem fácil, mas isso não significa que seja um investimento para poucos. Tentar elitizá-lo é ir na contramão da tendência mundial.

Alberto Valle, consultor e instrutor do Curso de E-Commerce